CONVERSA DE BAR
Calor infernal em meio a um dia confuso
E cheio de problemas resolvo parar
Sentar num bar
Pra uma gelada tomar e me refrescar
A cabeça funciona melhor
O dia corre mais tranquilamente
A bebida seca o suor
E dilata a mente
De repente, alguém me pergunta se pode me acompanhar
Digo "sim"
Era um senhor que puxou sua cadeira
Pediu uma cerveja e começou a falar
Apresentou-se a mim -
"Meu caro, meu nome é Deus,
E estou à sua disposição
Para uma prosa começar.
Fique a vontade, meu rapaz!"
Fiquei desconfiado e pensei -
"Esse tiozinho tá bem loko!"
Cinco segundos após eu pensar, ele disse -
"Não sou louco, só queria prosear um pouco"
Fiquei sem graça
E ele insistia -
"Não seja desconfiado, meu rapaz!
"Você não reza para mim todos os dias?"
Pensei - "Vixi, essa breja têm alucinógenos!"
E mais uma vez ele retrucava -
"Não têm nada aí, meu rapaz!
Você que é teimoso pacas"
Desisti!
Esse era Deus mesmo
O que não entendo é porque bem comigo
Perderia seu precioso tempo?!
Então fiquei na minha
Deixei que ele falasse um pouco
Falou sobre a vida na Terra
E como os bons homens eram poucos
Aproveitei e pedi desculpas
Por todos os meus erros
Atitudes erradas
Admitindo no último ano poucos acertos
Ele disse - "Relaxa!"
Relaxa? Eu pensei
"Só isso?" - Perguntei
"Quando se é bom o problema passa"
Então, tudo bem!
Falou-me sobre o passado, o presente e o futuro da humanidade
Sobre política e mulheres
Sobre drogas, bebida e caridade
Coincidência ou não
Ele falava sobre coisas do meu interesse
E eu acreditando que aquilo tudo
Parecia como uma intuição, mas presente
Por alguma razão
Deus teve vontade de falar comigo
Num papo informal
Mas cheio de informações
Para o meu crescimento espiritual
O problema é que quando percebi
Tínhamos tomado umas doze cervejas
Eu já estava ficando bêbado
E Deus também para minha surpresa
As risadas tornaram-se altas demais
Deus já não se segurava
Batia o copo na mesa
E pedia pro garçom trazer mais
Eu estava tão bêbado que falei pra Deus -
"Mano, você só pode ter fumado um baseado!"
Deus olhou sério para mim
E de repente caiu na gargalhada que nem um retardado
Eu fiquei aliviado
A prosa foi seguindo
A conversa era leve e eu estava relaxado
Deus não deixou eu pagar a conta
E, bêbados, saímos abraçados
Há tempos eu não me divertia assim com um amigo
Falamos sobre tudo que se pode imaginar
Até que apareceu um mendigo
E Deus tirou uma nota de R$ 20,00 reais e deu ao menino
Ficou um pouco entristecido
E disse - "Veja o que os homens fazem, olha o estado desse mendigo
Acabam com o planeta que eu criei
Com o meio ambiente e ainda me culpam, meu amigo!"
"Então porquê o senhor não evita isso?" - Perguntei eu
"Por causa do livre arbítrio" - Respondeu Deus
Deus olhou nos meus olhos
Em tom de despedida
Deu um sorriso leve e aliviado
Como se parecesse que a mensagem por mim foi entendida
Deu-me um forte abraço
Amassando até as minhas vestes
Virou-se e disse -
"Até de noite quando ouvirei suas preces"
E ele se foi
Continuei olhando-o até sumir
Pensando em tudo aquilo
Que acabava de ouvir e sentir
Era mesmo Deus
E tenho certeza que o encontro foi programado
Tentando me mostrar em algumas horas
O quanto o ser humano pode viver errado
Parece que ele me dizia
Para eu olhar pelo ângulo inverso
Daquele que eu tanto insisto
E sempre me ferro
E eu fiquei pensando
No quanto egoísta eu estou sendo
Achando que tudo tem que ser do meu jeito
Apenas olhando, julgando e às vezes até desmerecendo
Como se eu fosse Deus na verdade
Quando na verdade eu não estava sendo nem eu
Porque em algum lugar desse mundo
A minha mente me esqueceu
E quando a gente se esquece da gente
Outra coisa aparece para nos guiar
Como o brinquedo que a porcelana do "Vale das bonecas" *
Veio a se tornar
Deus realmente existe
E veio, da melhor maneira possível, me mostrar
E de uma forma descontraída, sem cobranças
O que é preciso fazer, numa simples conversa de bar.
* Postagem do dia 02/03/2009
Vale das bonecas
DANIEL BEDOTTI SERRA
02/03/2009