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São Francisco, Estados Unidos da América. Era uma noite quente de 29 de agosto de 1966 e os portões do Candlestick Park, estádio de basebol era o palco para o último show da turnê americana dos Beatles naquele agosto de 1966. Foram 30 dias de histeria, rock and roll, translados de hotéis para os estádios, medo e ameaças.
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A terceira turnê americana dos Beatles já iniciava com a polêmica sobre as declarações de John Lennon ao Evening Standard, onde declarava que a banda de Liverpool era mais popular que Jesus. A declaração datada do primeiro semestre daquele ano, ecoava durante toda a visita dos Beatles na América em 1966. Cansados, os fab já não eram mais aqueles meninos alegres e brincalhões que pintaram nos EUA em 1964, no chamado “boom” da beatlemania, eram quatro caras com vinte e tantos anos, entupidos de drogas como a maconha e o LSD e que já não se sentiam tanto a vontade em grandes turnês, os beatles haviam crescido. No lugar da alegria, o sarcasmo e as piadas infames.
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Era também uma época de transformações no próprio som. A “revolução”, iniciada em dezembro de 1965 com o álbum Rubber Soul, foi finalizada em agosto de 1966 com o lançamento do diferente álbum Revolver, uma verdadeira revolução na música “yeah, yeah, yeah” em que os Beatles ficaram conhecidos. No lugar de frases de amor adolescente, paradoxo com a existência, cobrança de impostos, música barroca e psicodelia pura.
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O ano de 1966 para os Beatles era diferente. Assim como o ano de muitas outras bandas que apregoavam o psicodelismo, as influências via ácido lisérgico e a crescente onda de surgimento das bandas da costa oeste americana, o rock and roll estava mudando e o som dos Beatles também. Além de toda a pressão feita pela mídia em decorrência das polêmicas, a banda já não conseguia mais executar ao vivo as músicas dos discos que cada vez ficam mais complexas para serem executadas ao vivo por uma banda de apenas quatro componentes.
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O show de São Francisco, capital do movimento hippie nos anos 60, era o último e eles sabiam disto. A estressante turnê daquele ano, que se iniciou na Alemanha, teve uma conturbada passagem pelas Filipinas, onde a banda foi expulsa por não participar de um jantar com a mulher do ditador Ferdinando Marcos, pousou no Japão nas tarde e noites impecáveis de som e imagem no Nippon Budokan Hall, em Tókio e estava sendo finalizada nos Estados Unidos, terminara com um show único e sensato. O show da despedida, o último para um grande público.
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As quase 47 mil pessoas que lotavam o Clandestick Park pouco sabiam das pretensões que John, Paul, George e Ringo. Tinham em mente mais uma noite de histeria e crises em decorrência dos gritos. E foi o que tiveram, nos 32 minutos de show, essa turma presenciou os fabfour no pequeno palco no meio do gramado do estádio, mal sabiam eles que era a última vez que os Beatles estavam se apresentando para o grande público.
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No palco o astral era outro, mas não muito diferente. Era o último show e só eles sabiam. Durante a apresentação, os fabfour riram muito, demonstraram estarem se divertindo realmente. Depois de uma turnê com ameaças de bomba e destruição de discos, estavam lá os quatro, rindo e brincando. O repertório era o básico daquela turnê com “Rock And Roll Music” na abertura. Seguindo com “She´s a Woman”, “Baby´s in Black”, “Day Tripper”, “I Wanna Be Your Man”, “Yesterday”, “I Feel Fine”, “If I Need Someone”, “Nowhere Man”, Paperback Writer” e o final com “Long Tall Sally”. Ufa! Imaginar que isto foi há 40 anos atrás.
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POR RAFAEL WEISS
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POR RAFAEL WEISS